quarta-feira, 14 de outubro de 2015
O livro 21 será lançado durante o VII Fórum Bienal de Pesquisa em Artes, às 19:00 do dia 02 de dezembro de 2015, no Auditório do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA. O lançamento contará com performance artística musical, visual e leitura das crônicas "De ouvir falar", "Dia de São José" e da poesia "Terra". A proposta do livro é uma experimentação poética que envolve música, literatura e imagens em fotografia e desenhos. As composições para clarinete e piano são de Marcos Cohen; os textos, poesia e fotografia são de Líliam Barros e os desenhos de João Bento. O livro aborda a saga da personagem Quinzinha e de sua família que, ao chegar do Ceará, construiu nova vida na Travessa Anita Garibaldi, mais conhecida como Km 21 da Estrada Castanhal/Terra-Alta. A narrativa é inspirada na história de vida desta família, recriada livremente e com os nomes trocados. A performance artística com as linguagens envolvidas na experimentação poética busca oferecer uma vivência multisensorial, não perdendo de vista o caráter etnográfico e, ao mesmo tempo, experimental da criação poética.
Data: 03.12.2015
Local: Auditório do PPGARTES. Av. Magalhães Barata, 611, entre 9 de Janeiro e 3 de Maio. Bairro São Bráz.
Horário: 18:00
Piano: Líliam Barros
Clarinete: Marcos Cohen
Leitura dramatizada: Elias Neves Gonçalves
Apoio com imagens: George Claude
segunda-feira, 12 de outubro de 2015
21 - Experimentação Poética: Prelúdio - Trabalho apresentado no XV Seminário Nacional de Pesquisa em Música da Universidade Federal de Goiás
21 – Experimentação
Poética
Prelúdio
Líliam
Barros
Marcos
Cohen
Resumo: Trata-se de uma
criação litero-musical a partir do diálogo entre as linguagens artísticas
literária, musical e fotografia. O produto final foi criado a partir da
pesquisa oral e de vivências dos autores na comunidade do Km 21, na estrada de
Terra-Alta, município de Castanhal, bem como a partir de levantamento
bibliográfico sobre a história da ocupação da localidade a partir do início do
século XX e relatos sobre o modo de vida e transformações pelas quais a
localidade passou ao longo deste período.
Os dados históricos obtidos foram recriados no formato de crônicas e
temas de peças musicais para a formação piano e clarinete. A criação artística
resultante é um livro-partitura com crônicas, música e expressão visual.
Palavras-chave:
Etnografia – artes - Poéticas
Abstract: This
work blends music, literature and photographs. The final product was created
upon a research with the people from the Km 21 community at the Terra Alta road
in Castanhal-PA, Brazil. A bibliographical survey was also made to investigate
the changes experienced by the community since the beginning of the
Twentieth-Century, when the area was occupied. All historical data were
reinterpreted as chronicles and musical pieces for clarinet and piano. The
resulting work of art is a book containing texts, music scores, and
photographs.
Keywords – ethnography – arts - poetics
Resumen: Se trata de una creación litero-musical producto de un
dialogo entre las lenguajes artístico-literarias, musical y fotografía. El
producto final fue creado a partir de experiencias de investigación oral de los
autores en la comunidad del Km 21, en la carretera de Tierra-Alta, Castanhal,
Pará. Lecturas sobre la historia de la ocupación de la localidad en el inicio del
siglo XX y relatos de las formas de vida y transformaciones en las cuales la
localidad ha pasado en estos tiempos. Los datos históricos obtenidos fueran
recreados en el formato de 4 crónicas y una poesía, 5 músicas para la formación
piano y clarinete y 6 imágenes. La creación artística resultante es un
libro-partitura con crónicas, música e expresión visual.
Palabras-clave – Etnografía – artes - poéticas
21 – Lugar de poesia
O local de estudo e fonte de inspiração para a
realização deste projeto denomina-se Travessa Anita Garibaldi, todavia, é mais
conhecido como Km 21 da Estrada Castanhal-Terra-Alta, no município de Castanhal,
estado do Pará (Lacerda, 2010). Esta região foi originalmente destinada a
receber os imigrantes italianos na segunda metade do século XIX, todavia, das
200 famílias que deveriam habitar na localidade, somente 19 foram assentadas,
num total de 95 pessoas (Emmi, 2008). Posteriormente, nas primeiras décadas do
século XX, migrantes nordestinos passaram a ocupar a região recebendo do
governo as terras para cultivo (Lacerda, 2010). Conforme conta a intensa
narrativa de “O Quinze”, de Rachel de Queiroz (2004), o governo estadual do
Ceará e a prefeitura de Fortaleza criaram expedientes para refugiar as pessoas
que fugiam da seca, como os “Campos de Concentração”, chamados pela população
local de “Curral”, e a emissão de passagens para a Região Norte e Sul. O
pesquisador Frederico de Castro Neves também relata diversos aspectos relativos
aos campos de concentração e às estratégias do governo de contenção desta
população: “Até então o governo procura controlar a movimentação dos flagelados
com obras no interior (açudes e ferrovias) e emissão de passagens para o Norte
e Sul do país, com a ajuda do Dispensário dos Pobres, entidade ligada à Liga
das Senhoras Catholicas, que distribui dinheiro e víveres aos desafortunados”
(Neves, 1995, p.106). O romance Candonga, de Bruno de Menezes, retrata aspectos
da vida de migrantes nordestinos durante o período de construção da estrada de
ferro Belém-Bragança, em torno dos dramas de sua personagem principal, homônima
ao livro.
Os migrantes nordestinos conseguiram adequar-se ao
novo modo de vida, aprendendo com os antigos moradores da região estratégias de
cultivo e sobrevivência e intercambiando padrões culturais. Ao longo das
décadas do século XX e XXI muitas coisas foram alteradas, incluindo a chegada
de energia elétrica e transformações sociais diversas em especial a
religiosidade (Luz, 2011). Nas narrativas dos moradores locais diversos
contextos musicais são referendados, com notoriedade para os Cordões de
Pássaros, Boi-Bumbás e conjuntos de carimbós que eram tocados durante o período
da colheita da mandioca e do arroz, entre as décadas de 1950 a 1980. O foco
deste trabalho é voltado para uma família de migrantes nordestinos cuja
trajetória rica inspira as narrativas, a música e a arte visual deste trabalho.
Tal localidade já foi objeto de dois estudos: a dissertação de mestrado de
Jefferson Luz (2011) e a obra Cordão de Azulão (COHEN, 2010). Pretende-se
contribuir para a historiografia musical da região a partir da criação
artística e literária, valorizando a memória local e, ao mesmo tempo,
oferecendo uma interpretação própria deste panorama.
Etnografia do sensível
Para este trabalho, o processo interpretativo característico
da etnografia (Titon, 1997) permeia um ponto além, através da extrema
subjetividade do resultado poético final. Uma etnografia da música tem como
pretensão descrever uma prática musical de seus sentidos e dos conceitos sobre
música das pessoas que a praticam (Seeger, 2004), ainda que esta etnografia se
dê em uma comunidade pequena cujas tradições musicais foram transformadas. O
resultado deste trabalho é uma etnografia da memória e do sensível. O olhar
sobre as transformações ocorridas nessa localidade lançam luzes, também, para o
processo de urbanização das áreas rurais, alterações nos modos de vida e
empobrecimento da fauna e flora locais em favor de grandes fazendas de gado e
loteamentos de conjuntos habitacionais nas redondezas do município de
Castanhal. Edson Barrus comenta sobre o lugar do artista enquanto sociedade e
do público no cenário da produção artística, num processo de diluição de
fronteiras:
Diluir
o artista na sociedade é equiparar Arte=vida. Esses eventos são temporários,
essas experiências são de pico: são operações extraordinárias de liberação de
uma ‘área’ de tempo, de imaginação, de terra, e se dissolver para se refazer em
outro lugar. Outro momento. Nesses grupos há somas e há subtrações, as autorias
são hibridizadas dando surgimento a um ‘outro’ expandido e precário (2008,
p.105).
A poética que deu origem às crônicas está embebida
num olhar que atravessa gerações, reavivando sentimentos escondidos, iluminando
a experiência e a vivência neste lugar, no nordeste paraense, que é um retrato
do processo de urbanização da região amazônica. Os igarapés, as roças, a
farinha, o pimental, os pés de cupuaçu, as noites de luar e as lamparinas são
objetos da memória que permeiam este imaginário, criando e recriando relações
atemporais, e redes simbólicas de pertencimento à terra. Memórias que pertencem
a esta família e, falar sobre esta comunidade é falar sobre um pouco de muitas
famílias e comunidades que habitam ou habitaram aquela região.
Y empecé también a hacer relaciones como quien va
juntando, com títulos como Soñar Pescado y Pescado de colores. O sea, empecé a
hacer referencias a las historias que yo sé de mi comunidad; como cuando
escuché de mi padre una historia sobre el doño y señor del lugar de las dantas.
Entonces yo pinté un cuadro haciendo relación a esa historia. Luego también hice árboles, árboles-dantas,
árboles-jaguar, en pequeños formatos. Es un árbol que no podemos ver todos los
días. Porque el pueblo de los yaraonis solamente existe en la imaginación
(Jacanamijoy, 2014, 217).
Tal imaginário pode ser interpretado como “O olhar
que, como janela da alma, também introverte na alma a paisagem exterior
recobrindo-a com uma capa de afetividade. O olhar fascina, seduz, mata,
encanta, fecunda, aterra, confunde, fulmina, mundia e provoca o brotar de
epifanias. Traduz necessidade ontológica insaciável” (Loureiro, 2013). Benedita
Martins, falando sobre a identidade do homem amazônida, destaca que “nesse
espaço indeterminado ou no entre-lugar, não apenas geograficamente delimitado,
também, no sentido de identificações identitárias é que se configurará e se
disseminará o homem amazônida interferindo, sub-repticiamente, na ordem das
culturas” (2009, p. 85).
Este projeto nasce como uma vontade de experimentação
estética envolvendo literatura, música e artes visuais, para expressar um olhar
sobre a trajetória destes migrantes cearenses. Nasce, também, de contar a
história desta família através da arte:
Na
multiplicidade de percepções e abordagens, apreendemos e compreendemos que a
Amazônia não é uma, tampouco se delimita ao nosso país, mas é um continente
vasto, com diferentes histórias escritas, a serem desveladas e que importam não
apenas como um território exótico, motivado pelo desejo de inserção que alimenta
fantasias e encontra-se como qualquer outra região do país que constrói
diferenças, tece semelhanças e que precisa ser reconhecida, sem
fundamentalmente ter que compactuar com a necessidade propagada pelo sistema da
arte, de se deslocar ao centro para poder existir (Maneschy, Mokarzel, 2012,
p.133).
Este projeto tem como cenário uma das faces da
Amazônia e pretendeu-se traduzir esta história a partir de um olhar realista e
imaginário, que sustentasse a trajetória histórica desta família, numa arte que
gira em torno do real e do irreal, do vivido e do não vivido. “A arte transita
pelos mais diversos campos que atravessam o simbólico, perpassando por materialidades
e subjetividades” (Maneschy; Mokarzel, 2012, p. 135). A ansiedade de apreender
os sentidos de pertencimento, identidade e memória presentes neste projeto se
parece muito com a concepção de que o desejo motiva a arte, conforme pondera
Orlando Maneschy em relação ao desejo e imagem:
A
imagem ocupa o papel daquilo que falta, de algo que não está presente, que não
é possível de se deter no tempo. Ela preenche o espaço de uma vacuidade visual,
ela vai ganhando desdobramentos extremamente intrincados, ao longo de sua
sofisticação, no que tange à representação do ‘real’. Como efeito, ela passa a ter
uma certa ‘autoridade’ sobre aquilo que representa. Essa potência que a imagem
emana, por sua capacidade de sigificar algo que existe e por representá-lo, em
sua aus~encia, vai adquirindo maior força a partir de seu emprego no campo da
vinculação. Através da imagem, é possível estabelecer um relacionamento com
aquilo que é desejado, mas que não está disponível, cuja pretensão última é a
de superar a morte (2009, p.24).
Para Pardini: “A criação fotográfica situa-se
precisamente neste limiar – nesta tensão – entre a descoberta (do que já
existe) e a invenção (do novo, do que passa a existir ou se manifestar, do que
a fotografia inaugura).” (2013, p.5). As imagens subjetivaram-se poeticamente,
entrelaçadas com as histórias e sujeitos das crônicas, adquirindo feições
próprias. A obra “Batuque”, de Bruno de Menezes (1993), gerada na vivência
afroamazônica, engloba diálogos entre as imagens desenhadas de Ray e as
melodias de Gentil Puget, e as relações entre a poesia, música e ilustrações
ainda não foram discutidas em sua obra.
Comentando sobre a hibridação das linguagens
artísticas na contemporaneidade, Mokarzel menciona que “Na maioria das vezes
imersa em uma condição híbrida e movente, a arte contemporânea rompe as
fronteiras entre linguagens, dispõe-se a entremear diferentes códigos, opta
pela mistura dos elementos que a compõem” (Mokarzel, 2012). Benedita Martins e
Joel Cardoso também se referem às bordas diluídas no universo das artes na
contemporaneidade: “[...] as fronteiras que delimitam o universo das artes se
tornam, por um lado, cada vez mais tênues, mais indefinidas e, por outro,
paradoxalmente, põem em evidência especificidades que permitem caracterizar com
mais precisão os traços identitários que distinguem as expressões artísticas.”
(Martins, Cardoso, 2012, p.07). Esta perspectiva da hibridação e do entremeio
da arte em diferentes códigos e linguagens deu suporte a este projeto, todavia,
caracterizando-o como uma criação lítero-musical e visual.
O trabalho resultante consta de uma suíte de 5
crônicas e uma poesia, emolduradas por 5 composições para clarinete e piano e 5
expressões visuais relacionadas com cada texto poético, respectivamente: 1. A
Grande Seca de 15; 2. De ouvir falar; 3. Mãezinha; 4. Dia de São José; 5.
Terra.
No presente artigo será dada uma visão geral da obra
e um detalhamento maior sobre a crônica “De ouvir falar”, cuja performance foi
realizada durante um evento científico na cidade de Belém, estado do Pará.
Os caminhos da pesquisa
e experimentação artística
A pesquisa foi realizada a partir da metodologia da
história oral, valorizando a memória dos habitantes do Km 21 e suas narrativas
a partir da história de vida e suas memórias musicais (Alberti, 2006). As
histórias de vida abraçam subjetividades transcriadas (Sebe; Meihy, 2006), a
partir do método da história oral, e recriadas, a partir de subjetividades
outras e com algum grau de liberdade poética. A pesquisa de campo foi realizada
a partir da perspectiva da fenomenologia hermenêutica aplicada à pesquisa
etnomusicológica (Titon,1997) que preconiza a experiência e a vivência musical,
ainda que, para este trabalho, tais experiências façam parte da memória dos
membros da família. As entrevistas ocorreram, também, em caráter etnográfico,
buscando compreender o significado de temas, espaços geográficos, aspectos
culturais e simbolismos próprios do lugar que serão as bases para as crônicas.
Foi realizada pesquisa bibliográfica sobre o processo de povoamento da
localidade, notadamente a partir do início do século XX (Lacerda, 2010). As
crônicas foram criadas a partir deste embasamento, mas possuem uma narrativa
livre, e as personagens tiveram seus nomes trocados. As conversas com os
moradores da localidade ocorreram durante todo o processo de criação, inclusive
no processo de troca de nomes das personagens. As composições foram criadas
tendo como fonte de criação os elementos ressaltados nas crônicas. Longe de ser
representação, este produto artístico buscou vivenciar literária, visual e
musicalmente os elementos simbólicos que emergiram na pesquisa etnográfica.
Após a finalização da obra, serão realizadas
apresentações em Belém e na localidade do 21, na escola da localidade, com
palestra e recital. Este trabalho busca dialogar com a produção artística em
Belém, observando o fluxo e as diversas diretrizes que vem sendo tomadas nos
processos criativos contemporâneos em arte nesta cidade. Pretendeu-se produzir
conhecimento a partir de uma interação dialógica com a comunidade do 21,
oportunizando o processo criativo. Muito embora a área de atuação dos autores seja
pesquisa etnomusicológica, composição e a performance, o entendimento deste
trabalho como um produto artístico se caracteriza por sua interdisciplinaridade
e interprofissionalidade, na medida em que alia prática de pesquisa sobre os
diversos cenários musicais da região amazônica a um ato poético-literário e
performativo. Neste sentido ocorre a indissociabilidade entre ensino, pesquisa
e extensão, pois o projeto se dará no âmbito do projeto de pesquisa vinculado a
um Grupo de Pesquisa. Seguindo a lógica do projeto de pesquisa citado,
oportunamente se coloca um jeito diferente de se fazer pesquisa etnográfica: a
partir da memória e da etnografia – uma poética. Acrescente-se, a isso, o
sentido pleno de vivência e experimentação que esta obra terá nas relações de
troca entre os pesquisadores/artistas e a comunidade do 21. Considerando que
esta proposta poético-musical se insere no âmbito de uma investigação
científica, ressalta-se o caráter de experimentação metodológica que daí se
derivará, do que se espera a oportunização de diálogos e trocas que gerem impactos
nos estudantes da graduação em música e da pós-graduação em artes em geral.
Acredita-se que a valorização desta história e sua apresentação poética através
deste produto artístico possa ser um agente de transformação social,
pois semeará uma vontade de saber no cenário da comunidade do 21.
Imagens – símbolos de
vida
As crônicas estão envolvidas em imagens-símbolos de
vida, que transcendem o tempo passado das lembranças e que seguem absorvendo o
fluxo das transformações. A árvore como elemento–chave das crônicas representa
a vida e morte, o tempo passado e o tempo futuro, nas dimensões da natureza e
do espiritual.
Árvore luminosidade (Fig. 1) se origina
da necessidade da modernização, da segurança e de claridade da energia
elétrica, iluminando o caminho à noite, já separado por uma cerca de arame,
determinando os limites de cada terreno. Árvore
pulmão (não constante neste texto), demonstra suas veias num raio-x, veias
abertas que sobem ao céu, sufocadas pela luminosidade. São veias brancas, num
fundo preto, que se afinam, perdendo o ar, talvez por causa do corisco de
outrora, talvez por causa da enorme pedra em seu caminho. Que pedra e que
caminho.
Neste caminho, cheio de borboletas azuis brilhantes,
voando e correndo pelos arbustos, aos bandos, colorem e colorem. Outro caminho,
de areias brancas e com um risco horizontal de mato pequeno, caminha pela noite
escura, sob o brilho de incontáveis estrelas, seguindo os passos das mãos de
menino do tamanduá bandeira. Os gritos dos bandos de garotos e garotas ecoam na
noite de luar, alegres, sem saber do futuro, sem se ligar no passado, vivendo
um intenso e duradouro presente que perpassa o labirinto da memória. Cores
piçarrentas e pedregosas atualizam a memória. O Caminho.
A árvore-banco
(Fig. 2), rodeada de flores suculentas ao chão, caídas, laranjadas, que
espocam quando são pisadas. Uma sombra fresca que abriga um corpo respirante.
Sufocados ambos – o corpo e a árvore – sublimam o encantamento da vida cortada.
Agora são cores marrons sob o sol escaldante do verão amazônico. Nada mais
nascerá ali. O que nos reserva o futuro? Dois proto-troncos marrons e o banco.
Um naco de verde iluminou a frente da casa, ofuscando a enorme luminosidade.
São imagens que se manifestam, que se fazem donas do
tempo, clarificando a crueza da realidade sentida e não sentida. Autônomas, não
desgrudam da memória, atrelam-se, identificam-se, não dão tréguas.
Velha, muito velha, anterior à casa da família. A Casa de Farinha (não constante neste
texto) amanhece em densas brumas de pó de farinha, de casca de mandioca, num
frio úmido que se arrasta por café. Aconchegada sob a mata, a umidade escura e
o cheiro quente da farinha de queijo atravessa décadas, sob o calor forte do
forno de cobre. Cada dia corroendo o barro das paredes caiadas entrecortadas de
madeira de lei. Antigas moradoras daquelas paragens. Num terreno alto, do outro
lado do caminho. Impassível diante da vida, dos muitos corpos e calores que se
abolotaram nos bancos de toras de madeiras, fazendo capote, marcando as mãos,
sentindo o calor do forno. Casa - árvore
(Fig. 4) que mistura os mundos e os tempos. As memórias do verde, do calor e da
luminosidade.
De ouvir falar
A crônica “De ouvir falar” foi concebida em forma de
narração de uma memória e de subjetividades da personagem Quinzinha, recortando
espaços distintos do tempo e conduzindo ao presente da dor e da esperança. O
texto revela as memórias da migração do Nordeste para a Amazônia, da acomodação
da família e da criação de raízes no novo lugar – o 21 – e da gradual perda dos
entes queridos, começando pela mãe de Quinzinha e finalizando pela morte de seu
marido, o Quinzinho. Pretendeu-se sublinhar a fortaleza desta mulher, uma de
tantas mulheres amazônicas, que segue curando suas feridas, com esperança de
uma vida melhor.
Tais memórias estão presentes no dia a dia da
família, nos móveis, religiosidade, maneira de lidar com certas coisas da vida e,
especialmente, com as quatro gerações que já passaram pelas mesmas terras e
pelos mesmos igarapés:
Logo
após sua partida, Quinzinha, na época com nove anos, ficou cuidando da casa e
do menino. Mas ele morreu pouco tempo depois. Então ela e seu pai partiram para
Belém do Pará, no Loyd (AUTORES, 2014).
A imagem Casa-árvore é a imagem símbolo desta
crônica. Pretende dialogar com temporalidades distintas e conexas. A da casa de
farinha utilizada outrora por toda a família e agora arrendada para terceiros, e
a árvore em cujo banco Quinzinho descansava deitado à tarde. No terreno da
família, a casa e a árvore ficam em locais separados. Na foto, estão juntas em
razão da necessidade de vinculação imagética destas temporalidades e
subjetividades. A árvore foi cortada e deu lugar a um poderoso poste de luz,
extremamente importante para a segurança da casa.
No
lugar do antigo jambeiro, há agora um pé de planta, com um banco, onde ele
costumava deitar-se. Depois de sua morte, o lugar vazio preenche tudo ao redor,
acompanhando as notícias do caminho (AUTORES, 2014).
Esta mesma árvore está conseguindo se reerguer, e
seus cabelos estão começando a crescer, em folhas verdes, jovens, que fazem
pequena copa saudando a grande luminosidade e desafiando um futuro próximo de novos
cortes e aparos. À sua sombra, sempre estarão as respirações, o cansaço e o
peso de lembranças de muitas vidas.
A
música homônima foi composta em três seções – A-B-A –, acrescidas de uma coda, para
piano e clarineta. A primeira seção, iniciada com um prólogo mínimo, apresenta
o tema principal da peça na clarineta sobre um acompanhamento de padrão
estrutural quase constante no piano. O contorno do tema explora a tessitura
aguda da clarineta e seu desenho rítmico é, por vezes, episódico. A seção
intermediária foi construída em contraste com as seções externas, tanto em
termos de movimentação e diálogo rítmico entre os instrumentos, quanto na
ambientação estática que define a harmonia do trecho. A seguir, o tema é
retomado na terceira seção quase que integralmente, à exceção do final que,
harmonicamente modificado, conduz à coda. A apresentação de novo material
melódico, harmônico e rítmico caracteriza a primeira parte da coda; sua parte
final reapresenta elementos da segunda seção da peça, mas, desta vez, sem a intervenção da clarineta. O discurso da obra se
fundamenta numa dialética do ritmo estabelecida entre padrões ternários e
quinários, que dialoga com o caráter narrativo da crônica através do segundo
tema, cujo motivo se repete em alguns momentos da peça.
A performance desta experimentação estética ocorreu
na abertura de um evento científico na cidade de Belém e contou com a presença
da personagem principal do texto e de mais duas pessoas ligadas a ela.
Primeiramente foi lida a crônica, tendo a imagem Casa-Árvore ao fundo, seguida
da performance musical. A personagem principal esteve muito emocionada, posto
que as diversas subjetividades são colocadas em evidência durante a performance
artística.
Considerações
finais
Este artigo teve
como proposta apresentar o processo criativo da obra 21 – Experimentações
Poéticas. A ideia surgiu a partir de inquietações relativas ao trabalho
etnográfico e ao desejo de realizar pesquisa sobre aspectos da história e modo
de vida de uma família da localidade do KM 21 da estrada Castanhal-Terra Alta,
Pará. Nesta localidade, há décadas, habita a família de um dos autores do
artigo. Daí conjugar a pesquisa a uma subjetividade extrema que resultaria numa
obra poética, um produto tão distinto para um trabalho etnográfico.
A construção dos
textos, das imagens e das músicas se deu de forma gradual, à medida em que as
crônicas traziam elementos simbólicos específicos. Ao final, considera-se que o
diálogo entre as três linguagens oportunizou complementaridade no discurso, na
medida em que um sentido ou proposição pode ser ressaltado nesta ou naquela
linguagem, considerando-se o não controle sobre o processo interpretativo.
Por fim,
buscou-se, também, que a partir do texto poético, imagens e música, elementos
da história, sentidos e vivências pessoais da família e dos autores, fossem
dimensionados de alguma forma como produto artístico.
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* Trabalho apresentado no XV Seminário Nacional de Pesquisa em Música da Universidade Federal de Goiás e está disponível no link: http://sempem2015.weebly.com/anais-do-xv-sempem.html
http://sempem2015.weebly.com/anais-do-xv-sempem.html
http://sempem2015.weebly.com/anais-do-xv-sempem.html
sexta-feira, 9 de outubro de 2015
"De Ouvir Falar"
"De ouvir falar", com a Imagem - Símbolo de Vida "Casa - Árvore" ao
fundo. Quinzinho, personagem principal da narrativa, costumava deitar-se
num banco à sombra de um pé de planta em frente à sua casa. No outro
lado, a Casa de Farinha é outra Imagem - Símbolo de Vida. A fotografia
"Casa - Árvore" aglutina essas duas imagens, num tratamento dado pelo
artista Orlando Maneschy. Para esta família do 21, a terra, as árvores,
os igarapés, se entrelaçam em raízes profundas nos ciclos da vida e da
morte. Esta apresentação ocorreu no dia 12 de dezembro de 2014, na "I
Jornada de Pesquisas em Etnomusicologia" com a participação de Thiago
Lopes na clarineta e a presença da matriarca da família do 21 na
plateia.
O Projeto 21 - Experimentação Poética é resultado de uma pesquisa baseada na História de Vida de uma família que habita um sítio na estrada Terra-Alta - Castanhal. Foram realizadas entrevistas com a matriarca da família, oportunizando a memória da trajetória de migração do Ceará para esta localidade, onde já residiam familiares vindos em décadas anteriores, por ocasião da Grande Seca de 15. Todavia, o resultado da pesquisa foi colocado de forma poética em 4 pequenas crônicas e 1 poesia. A história de vida e a produção textual foi absorvida e reinterpretada pelo compositor Marcos Cohen que compôs músicas para clarinete e piano, homônimas aos textos. Fotografias e textos de Líliam Barros e desenhos de João Bento.
O Projeto 21 - Experimentação Poética é resultado de uma pesquisa baseada na História de Vida de uma família que habita um sítio na estrada Terra-Alta - Castanhal. Foram realizadas entrevistas com a matriarca da família, oportunizando a memória da trajetória de migração do Ceará para esta localidade, onde já residiam familiares vindos em décadas anteriores, por ocasião da Grande Seca de 15. Todavia, o resultado da pesquisa foi colocado de forma poética em 4 pequenas crônicas e 1 poesia. A história de vida e a produção textual foi absorvida e reinterpretada pelo compositor Marcos Cohen que compôs músicas para clarinete e piano, homônimas aos textos. Fotografias e textos de Líliam Barros e desenhos de João Bento.
O 21
No final do século XIX, a Gleba Anita Garibaldi, mais conhecida como KM 21, estrada Castanhal-Terra-Alta, município de Castanhal, no Pará, foi designada para receber colonos italianos, num acordo político entre Brasil e Itália. As famílias italianas chegaram a ser conduzidas para a área, mas não permaneceram lá devido às difíceis condições de vida na época (sem recursos, conduções ou estradas). Posteriormente, já no início do século XX, por ocasião da Grande Seca de Quinze ocorrida no Ceará, diversos colonos cearenses iniciaram um processo de colonização do lugar, incentivados pelo governo do ceará e do Pará. Muitas famílias que até hoje vivem no 21 são descendentes destas primeiras levas de nordestinos que colonizaram a região. Até hoje, a memória das viagens, as comidas, a forma de falar, e outros hábitos, permanecem na cultura local, juntamente com saberes que estes nordestinos adquiriram com os moradores das áreas próximas, na região do Salgado. O romance "O Quinze", de Rachel de Queiroz, descreve aspectos do flagelo da seca no Ceará. No Pará, o poeta e escritor Bruno de Menezes publicou o romance "Candonga" sobre a ocupação nordestina na região da estrada de ferro Belém-Bragança.
Até meados da década de 1980 diversas manifestações musicais ocorriam entre o KM 21 e o KM 23 da Estrada Castanhal - Terra-Alta. Possivelmente, nos demais KM também ocorriam, mas os relatos recolhidos em pesquisas abordam apenas este perímetro. Tais manifestações eram, principalmente, Cordões de Bichos (do cachorro, do Azulão, da Cutia) e Boi-Bumbá, que aglutinam música, dança, teatro, poesia, crítica social, arte visual e muitas outras habilidades performáticas. Estes grupos eram chamados durante os festejos juninos e realizavam suas apresentações nos terreiros ou nas salas das casas, sempre a convite dos donos das residências. Diversas transformações ocorrem na localidade, incluindo a chegada da energia elétrica nos ramais adentro e a facilidade de transporte às cidades de Castanhal e Belém. Assim, outros gêneros musicais passaram a fazer parte do cotidiano das pessoas, como os bregas e os tecnomelody, com as festas de aparelhagens.
Para saber mais:
COHEN, Marcos; MARIANO, Benedito. Cordão de Azulão. PPGARTES, 2010.
LACERDA, Franciane Gama. Migrantes Cearenses no Pará. Faces da Sobrevivência (1889/1916). Belém/Pará: Açaí, 2010.
LUZ, Jefferson. “Cadê o Azulão? Transformações culturais e o desaparecimento de um cordão de pássaro”. Dissertação de mestrado. PPGARTES/UFPA, 2011.
MENEZES, Bruno de. “Batuque” In Obras Completas. Volume I. Obra Poética. Coleção Lendo o Pará. Nº 14. Belém, Pará: SECULT, 1993.
___________________. “Candonga” In Obras Completas. Volume II. Obra Poética. Coleção Lendo o Pará. Nº 14. Belém, Pará: SECULT, 1993.
NEVES, Frederico de Castro. “Curral dos Bárbaros: os campos de concentração no Ceará”. In Revista Brasileira de História. São Paulo, V. 15, nº 29, pg. 93 – 122, 1995.
QUEIROZ, Rachel de. “O Quinze”. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004..
COHEN, Marcos; MARIANO, Benedito. Cordão de Azulão. PPGARTES, 2010.
LACERDA, Franciane Gama. Migrantes Cearenses no Pará. Faces da Sobrevivência (1889/1916). Belém/Pará: Açaí, 2010.
LUZ, Jefferson. “Cadê o Azulão? Transformações culturais e o desaparecimento de um cordão de pássaro”. Dissertação de mestrado. PPGARTES/UFPA, 2011.
MENEZES, Bruno de. “Batuque” In Obras Completas. Volume I. Obra Poética. Coleção Lendo o Pará. Nº 14. Belém, Pará: SECULT, 1993.
___________________. “Candonga” In Obras Completas. Volume II. Obra Poética. Coleção Lendo o Pará. Nº 14. Belém, Pará: SECULT, 1993.
NEVES, Frederico de Castro. “Curral dos Bárbaros: os campos de concentração no Ceará”. In Revista Brasileira de História. São Paulo, V. 15, nº 29, pg. 93 – 122, 1995.
QUEIROZ, Rachel de. “O Quinze”. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004..
Um roçado no 21
Foto: Líliam Barros, 2015
Um roçado no 21
Este é um "broto" de mandiocaba. Em seu sulco há uma seiva responsável pelo crescimento deste tipo de mandioca. O tempo de crescimento é de um ano. Os sábios moradores locais conseguem diferenciar os pés dos diversos tipos de mandioca e macaxeira observando as folhas. Identificam, também, se estão maduras, se há marcas de bichos ao redor (cutia) ou se é necessário retirar matinhos que crescem por perto. De tempos em tempos colocam adubo e capinam as trilhas. Pelo meio do roçado, há pés de jerimum e feijãozinho verde. Ao redor, caminhos de pés de laranja. Os pés de milho crescem entremeados aos de mandioca. Tudo organizado por quem conhece as plantas.
O milho e a mandioca, com suas variantes, são alimentos importantes para os moradores do 21, assim como para toda a Abya Yala (terminologia Kuna ancestral para o território que hoje é chamado de América). O cultivo do milho e da mandioca até hoje está presente no cotidiano e na organização das comunidades moradoras das colônias, incluindo os equipamentos de processamento como a Casa de Farinha, o forno, e todo o conhecimento de plantio destes alimentos. Muitas receitas utilizam estes ingredientes e, conversando com pessoas da comunidade, anotamos receitas características do 21. Algumas não são mais usadas, outras são bem apreciadas até hoje. Abaixo estão os nomes das receitas:
- Galinha com pão (cuscuz) de milho;
- Pé de moleque
- Mandicuera (feita com Mandiocaba - um tipo de mandioca)
- Paçoca de castanha de cajú;
- Suco de jenipapo
- Suco de jenipapo ferrado
- Doce de cupuaçú (de mamão verde, e de outras frutas);
- Beijú chica
- Molho de tucupi cozido no sol;
- Café da manhã de antigamente (baião de dois cozido na banha de porco com café);
- Mugunzá (mingau de milho salgado);
- Chocolate de castanha de cajú;
- Vinho de Mucajá;
- Farofa de tripa de galinha;
- Orelha (de trigo ou farinha);
- Cabeça de galo (caldo com ovo, não é a cabeça do galo de fato);
- Pirão escaldado (para parturientes de resguardo);
- Espécie (um doce de gergelim).
- Chibé com camarão
Lançamento do livro 21 em Brasília
Foto: Herson Amorim, 2015
Lançamento do livro 21 no Encontro de Clarinetistas de Brasília, em agosto de 2015. O evento constou de apresentação oral sobre o projeto "21 - Experimentação Poética" seguido de performance da obra para clarinete e piano, pelos próprios autores Líliam Barros e Marcos Cohen Registro de Herson Amorim.
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