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Fotografia: Líliam Barros, 2015
Chuva da chegada
Para
barítono e piano
Dedicada a
Leonel Barros
Poesia: Líliam Barros
Música: Marcos Cohen
Fotografia homônima: Líliam
Barros
Chegamos embaixo de chuva,
Por causa dela, pairamos um tempo no ar.
Atravessamos uma nuvem de chuva,
Sob as nevoas, quase não se divisavam os
rios.
Pequenos traços dourados cruzavam o
nevoeiro branco
Ao redor da baía do Guajará;
Pouco a pouco o chão sob o céu
transformou-se em marrom
Com pequenas ondas salpicadas em
respingos.
É a chuva das três da tarde, na baía do
Guajará.
Para que não restem dúvidas que,
Saudando minha chegada,
Estamos em Belém do Pará.
De dentro dos pingos de chuva no vidro,
Lampejos coloridos dissolvem os carros
em cores.
Velozes e travados,
Sob o céu de nevoeiro, branco, destridimensionalizado,
Como as noites brancas de Dostoiéviski.
Ao longo da Duque de Caxias, atrás das
grades,
Os moradores apreciam,
Embebidos no cheiro de café.
A raivosa tormenta.
Tormenta aparada pelo vidro do carro,
com suas flechas de água borradas em
pequenos lagos que filtram as luzes e as cores dos carros,
E deslocam as dimensões do céu,
Num ambiente quase virtual.
De dentro dos pingos de chuva no vidro
um mundo transformado desponta.
Explode em cores cinza e branca de
chuva,
Lembrando uma ausência vívida.
As lentes filtram a luz,
Em pequenos lagos
Como os lagos de chuva no vidro do
carro.